12 de novembro de 2008

Undokai quente pra pracarai né?



Como na ilha do Mocanguê só é possível chegar de carro, minha irmã (com a carteira de motorista vencida) me convocou para levá-la com uma amiga até um evento de cultura japonesa que ela queria muito ir. Seria um undokai que depois descobri que, traduzido do japonês, significa Gincana Poliesportiva. É um evento comum no mês do maio no Japão, quando não é muito quente nem muito frio. Aqui aconteceu no último domingo sob um sol intenso do Rio de Janeiro.

Quando chegamos, as famílias japonesas estavam sentadas em suas esteiras e cadeira (trazidas de casa) em todas as sombras possíveis. Todos muito bem equipados com caixas térmicas com sushi, garrafas de água, protetor solar e repelente. Minha irmã demonstra um óbvio desconforto "Estou me sentindo muito ocidental" mesmo sabendo tanto japonês quanto os nisseis daquelas famílias. Eu nem me sentia mal, só o calor que me irritou. Então minha irmã pediu para eu ficar algum tempo esperando para ela e a amiga resolverem se iam ficar ou não. Como achei uma sombra e tinha ipod, papel e caneta na bolsa, concordei em ficar um pouco.

Pontualmente, começaram discursos, hinos do Brasil e do Japão e outras pessoas falando que eu não ouvi, pois estava ouvindo música, mas também não entenderia, pois elas falavam em japonês mais da metade do tempo. Não estava prestando muita atenção no gramado na minha frente cheio de gente(eu prestava atenção apenas no relógio dizendo que já estava tempo demais ali) quando, de repente, começou uma música de tambores tão alta a ponto de eu poder ouvir. Então os diversos japoneses que antes estavam só em pé e batendo palmas, estavam dançando (acho) numa invejável sincronia. Quando li a programação do evento descobri que aquilo era uma espécie de aquecimento para as atividades físicas da gincana. E o "ichi, ni, ichi, ni" (um, dois, um, dois) que eles gritavam parecia ter mais sentido.

Ao tentar entender o resto da programação (grande parte escrita em japonês), percebi que devia ficar naquele evento mais tempo. Mesmo que seja para tirar fotos bizarras. Também descobri comida realmente japonesa barata. As atividades previstas tinham nomes que não explicavam muito. Yomesan sagashi significava corrida da procura de noiva mas ainda não me esclareceu como seria essa atividade. Decidi que ficaria até essa, pelo menos.

Sentados do meu lado, numa tenda trazida de casa com cara de comprada na Tok & Stok, estava a típica família japonesa que freqüentava o undokai. Eram um avô e uma avó com cara de 60 anos mas que, provavelmente, tinham uns 100 anos. Fofas crianças japonesas hiperativas e seus pais. Todos eles devidamente protegidos do sol com chapéu e reaplicação de protetor solar.

Surgiam cada vez mais pessoas e mais cheiro de peixe impregnava o local. As modalidades de esporte eram mais interessantes do que de gicana escolar: corrida de 3 pernas, cabo de guerra, pesca de garrafa. E todas eram especificamente para uma faixa etária, como se dividido esportes para crianças, adolescentes, mães/pais e avós. Como não tinha como checar, um nissei de aparentemente uns 15 anos competia e ganhava todos os esports para até 12 anos. Depois minha irmã explicou que o menino tinha mesmo 12 anos, mas como era de uma altura normal, parecia mais velho que as outras crianças.

Passou a modalidade de corrida até as noivas que basicamente eram dois grupos, um de homens e outro de mulheres, que pegavam nomes num pote e tinham que achar seu par. A Cláudia devia achar o Cláudio e correr até uma linha de chegada de mãos dadas. Provavelmente eram nomes japoneses, e não Cláudio(a). Acho que esse é considerado um modo de um japonês conseguir namorar.

De novo pontualmente, começa a pausa para o almoço. Decidi que ia comer e ir embora. Na fila do yakissoba, quase tive um surto. As pessoas conversando e japonês próximo de mim e sem eu entender meia palavra era algo que me irritava. Japonês é uma língua que nem dá para chutar de que assunto eles estavam falando. A única palavra que entendi foi "Watashi churrasquinho wa blá blá blá". O japonês devia estar com desejo de comer carne vermelha.

Eu fui embora pois não ia aguentar mais sol e não estava tão preparada que nem os japoneses. Eles poderia ageuntar um ataque nuclear com toda a comida e objetos que eles trouxeram (péssima escolha de exemplo, alias). Achei interessante ver como, mesmo no Rio, eles tentam fazer algo parecido com o Japão. E que eventos de anime e animação japonesa em geral não condizem com a realidade do que é ser nihongin.

1 comentários:

Diego Tavares disse...

Iradíssimo! Não sabia que havia eventos desse tipo aqui...

Teu texto me deu vontade de conhecer esse Undokai, aliás.

Agora só ano que vem?